No dia 1° de maio de 1851 foi aberto o Palácio da Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria de Todas as Nações, um evento realizado em Londres que reuniu um total de 6 milhões de visitantes ao longo dos cinco meses e meio de duração. Recebeu a alcunha de Palácio de Cristal pela imprensa britânica não sem motivo, tratava-se de uma edificação composta por 293.655 painéis de vidro montados sobre uma estrutura metálica em uma sequência de treliças e pórticos de ferro, que em determinados locais atingia uma altura de 33 metros permitindo a manutenção de árvores adultas existentes no local. A história da sua idealização e construção faz parte de um capítulo relevante da arquitetura e construção mundiais, pontuam a transição das técnicas até então consolidadas e tradicionais do sistema de alvenaria para um sistema industrializado de planejamento e execução de estruturas pré-fabricadas.
Em 11 de janeiro de 1850 foi realizada a primeira reunião de planejamento do evento, seriam 15 meses de cronograma para a elaboração de um projeto e sua construção, atrair e instalar milhares de estandes vindos de vários países, providenciar infraestrutura de apoio, contratar pessoal, desenvolver campanhas publicitárias e toda uma série de ações necessárias para o sucesso do empreendimento. Uma das primeiras ações nesse sentido foi a realização um concurso público de projetos com 245 propostas, porém foram todas consideradas impraticáveis, rejeitadas por não atender às condições impostas pelo cronograma.
Uma segunda comissão foi composta sob o título de Comitê da Edificação da Real Comissão para a Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria de Todas as Nações, era formada por quatro integrantes: o arquiteto Matthew Digby Wyatt, os engenheiros Charles Wild e Isambard Kingdom Brunel e o decorador Owen Jones. Propuseram uma construção monumental com uma cúpula de ferro de 60 metros de diâmetro montada sobre uma base de alvenaria composta por 30 milhões de tijolos. Tudo precisava ser realizado em 10 meses e desmontado após o evento, o volume de material necessário para a execução do projeto e a sua logística de construção novamente indicavam obstáculos intransponíveis. Não seria possível produzir tal quantidade de tijolos nem tão pouco assentá-los no prazo estabelecido, a cúpula metálica só poderia ser iniciada após a conclusão da base. Não havia tempo.
Nesse contexto quase desesperador entra em cena a figura do arquiteto Joseph Paxton, zelador da propriedade que o Duque de Derbyshire possuía em Chatsworth, no condado de Derbyshire. Paxton tinha experiência com estruturas metálicas e hidráulicas e havia projetado em 1843 uma grande estufa tropical chamada Great Conservatory, imaginou que algo parecido poderia vir a dar certo para o prédio da exposição. Fez alguns esboços auxiliado pelo engenheiro William Barlow e concluiu uma apresentação para a comissão, foi aprovado devido às respostas objetivas aos desafios impostos pelo tempo reduzido. O futuro Palácio de Cristal não necessitaria de tijolo algum, seria montado, aparafusando-se peças e assentando-as no solo através de um engenhoso sistema de logística e planejamento de obra. Tratava-se de uma estrutura pré-fabricada a partir de peças padronizadas, montadas seguindo uma engenharia de produção inovadora com plataformas móveis com capacidade de instalação de 18 mil painéis de vidro por semana. O prédio com 70.000m2 saiu do papel em 30 de julho de 1850, teve suas obras concluídas em apenas 27 semanas, foi construído pela firma Fox Henderson com projeto estrutural final do engenheiro Charles Fox.
As principais características do projeto de Paxton, que depois seriam incorporadas à técnica construtiva mundial como saber convencional, eram o uso de um sistema rigoroso da modulação; o uso de ligações rígidas entre colunas e vigas, adotando um enrijecimento estrutural em X; o uso de ferro fundido para fabricar componentes idênticos de forma rápida e barata; e o uso generalizado de componentes pequenos e leves que pudessem ser movidos com o auxílio de gruas.
A exposição foi um sucesso de público e crítica, a edificação mostrou-se adequada causando grande impacto nos seus visitantes, a chegada ao local sob o vislumbre das placas de vidro reluzentes com amplos salões e circulações abrigavam quase 100 mil objetos distribuídos em aproximadamente 14 mil estandes. O projeto era composto basicamente por uma malha ortogonal de áreas de exposição, intercaladas por elegantes "salas de descanso" onde os visitantes poderiam recuperar as energias enquanto admiravam os belos jardins internos. A Grande Exposição obteve um lucro de 186 mil libras, que se atualizados para o presente gerariam algo próximo de 21 milhões de libras, isso permitiu ao governo inglês a construção de uma série de importantes equipamentos e instituições públicas até hoje presentes e funcionais.
O Palácio de Cristal permaneceu erguido até o verão de 1852, época da decisão pela sua remoção para um novo parque a ser chamado de Parque Palácio de Cristal, no sul de Londres. Durante a mudança o projeto sofreu alterações tornando-se maior, com o dobro do volume de vidro utilizado. Desabou 4 vezes, aparentemente tudo o que antes parecia equilibrado, ordenado e exaustivamente planejado se perdeu nessa nova configuração que teve um final definitivo sob o fogo de um grande incêndio que o consumiu completamente em 1936.