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Esdras Santos

Os Antigos Sabiam das Coisas


A história da arte nos apresenta não somente a evolução da técnica, da percepção humana e da sua sensibilidade em narrar fatos como também nos dá oportunidade para refletir sobre alguns detalhes que podem passar despercebidos. Um exemplo disso está na ilustração de paisagens da arte egípcia. Essa peça com aproximadamente 3.400 anos nos causa uma primeira impressão de primitivismo artístico, a composição nos remete aos desenhos infantis escolares, não há uma sofisticação na profundidade da cena nem com luz ou sombra.

Porém nela vemos claramente a representação de um jardim composto por um reservatório retangular cheio de plantas e animais aquáticos. Nas suas bordas internas notamos a presença de espécies vegetais adaptadas às áreas alagadas, ao centro temos aves, peixes e plantas aquáticas facilmente identificáveis. Nas bordas externas percebemos a presença de árvores e palmeiras de espécies variadas, pessoas trabalhando no beneficiamento dos frutos colhidos nesse local. Pelo fundo verde predominante podemos supor se tratar de uma área recoberta por vegetação rasteira. O azul da água e as linhas sequenciais de pequena ondulação indicam um clima ameno com céu limpo e brisa suave.

Apesar desse aparente primitivismo o nível de detalhe descritivo impressiona. Temos exemplares semelhantes em diferentes períodos da história, poderemos notar um incremento na técnica, na composição, no enquadramento etc mas conseguir atingir a mesma fidelidade descritiva parece muito difícil.

Na arte impressionista acima, temos um exemplo do mesmo tema sob a visão de Monet com suas pinceladas estratégicas em conexão direta com a nossa percepção visual. A ilustração da cena é de grande impacto e capacidade descritiva, porém é notória a limitação da informação em relação ao modelo egípcio, pois trata-se de uma imagem isolada, um enquadramento.

Temos o realismo quase rivalizando com a fotografia, nesse exemplar de Wyeth percebemos a mesma composição do exemplo anterior, trata-se também de um recorte da paisagem. Temos a impressão que para obter sucesso na reprodução de um quadro tão amplo quanto seu ancestral teríamos que deslocar o observador rio abaixo e campo acima de maneira a captar um número equivalente de informações, mas neste caso já seria uma filmagem. Curioso, não?


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